Conduzo
o carro dele vários quilómetros para fora da cidade. Sigo por trilhos de terra
batida e em poucas horas estou no meio do deserto. Saio do carro e olho à minha
volta. Não se vê uma réstia de civilização em lado nenhum. Apenas planícies de
terra vermelha para onde quer que se olhe. Abro a mala do carro e tiro o homem
imobilizado por várias camadas de fita adesiva. Ele ainda conserva o olhar de
puro terror quando olha para mim. Instalo-o no banco do condutor e prendo-lhe
as mãos ao volante. Quando estou confiante de que ele não vai a lado nenhum,
retiro-lhe o pedaço de fita adesiva da boca. Ele não diz nada, apenas fica a
olhar para mim com aquele ar aterrorizado. Acendo um cigarro do maço que
encontrei no porta luvas e dou uma grande passa. Estava mesmo a precisar. Tiro uma navalha do bolso e rodo-a nas
mãos. É como andar de bicicleta… Na
longa meia hora que se passou a seguir, ele diz-me tudo o que eu precisava de
saber. Como a minha filha morreu ainda em casa e o seu corpo enterrado neste
mesmo deserto. Como a polícia estava a postos perto da casa do homem que eu era
suposto matar, pronta para me pôr na cadeia durante o resto da minha vida. Como
eu matei ambos os seus pais há não sei quantos anos e que isto era a sua
vingança. Ao fim dessa meia hora ele está a implorar-me para o matar. Faço-lhe
a vontade e corto-lhe a garganta. Não sinto nada. A minha mulher e filhas
mortas por minha causa. O meu passado alcançou-me mesmo e roubou-me tudo. Pego
na pistola e encosto o cano à têmpora. Não sinto nada.
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